quinta-feira, 11 de junho de 2009

Afinal... Não vale tudo

O PS e o Governo sofreram uma derrota estrondosa nas europeias, mas não aprenderam nada. Perante o cartão vermelho carregado, traduzido na perda de centenas de milhares de votos (se compararmos com os 1 511 214 obtidos em 2004), os responsáveis socialistas recusam-se a enfrentar a evidência e a reconhecer que os portugueses estão profundamente descontentes com o rumo da governação. É que não há como negar. Numa campanha em que só se falou das políticas nacionais, é óbvio que foram, sobretudo, essas políticas que os eleitores quiseram julgar. Ora, em vez de o reconhecerem com humildade e mostrarem abertura para, no mínimo, fazerem uma profunda reflexão sobre as opções que têm vindo a ser tomadas, o que fazem os dirigentes do PS? Recusam a evidência do julgamento popular e prometem... continuar a fazer mais do mesmo. "Vamos manter o rumo", resumiu José Sócrates, na sua declaração de derrota. É a arrogância em todo o seu esplendor, protagonizada por um primeiro-ministro que não percebeu que foi também a arrogância a sair derrotada destas eleições. Isto porque, se em cima da mesa esteve, obviamente, uma avaliação do conjunto de políticas que fazem o descontentamento do dia-a-dia dos portugueses, não é menos verdade que não escapou aos eleitores toda uma série de comportamentos que contradizem a tradição e a prática histórica do próprio Partido Socialista. Já não há paciência para o quero, posso e mando dos directórios partidários sobre os cidadãos; nem para as tentativas de condicionamento dos media, e muito menos para a dualidade de critérios, conforme as conveniências de momento. A este propósito, foi verdadeiramente vergonhosa a forma como o cabeça de lista do PS tentou envolver todo um partido - neste caso o PSD - num caso de polícia, a propósito da situação do BPN. A direcção socialista ficou convenientemente calada e teve ainda o desplante de silenciar, também, o desprezo pela presunção de inocência em relação a quem não foi pronunciado e julgado neste caso. Esta direcção do PS fez tábua rasa dos princípios que o partido sempre defendeu e que justamente reivindica para os seus pares quando são eles a estar em causa, e não teve a grandeza de levantar a voz para calar quem assim atropela os próprios fundamentos do Estado de Direito. Foi (também) por tudo isto que o PS perdeu. Felizmente, as urnas falaram e disseram que não vale tudo.
Contra tudo e contra todos, Paulo Rangel venceu as eleições. Venceu, apesar do contravapor das facções que balcanizam o PSD; venceu, apesar das facadas que foi recebendo ao longo da campanha por parte de putativos candidatos experts em exercícios de cinismo e de calculismo político; venceu, apesar de não ter máquina, nem aparelho e de uns cartazes que devem ter sido feitos por alguém que lhe quer muito mal. Paulo Rangel venceu porque é um bom candidato e porque teve imensa sorte de ninguém querer andar ao lado dele, fazendo o País esquecer que do PSD ainda fazem parte muitas caras que ninguém deseja ver, nunca mais.

ATENÇÃO: Muito mérito para Paulo Rangel nesta vitória. Já estava a fazer um bom trabalho como líder parlamentar e continuou a crescer durante a campanha. A continuar assim, ainda vamos ouvir falar muito dele num futuro próximo.